segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Gonçalves Dias - Uma leitura de Marabá




Eu vivo sozinha; ninguém me procura!
Acaso feitura
Não sou de Tupá?
Se algum dentre os homens de mim não se esconde,
— Tu és, me responde,
— Tu és Marabá!

— Meus olhos são garços, são cor das safiras,
— Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
— Imitam as nuvens de um céu anilado,
— As cores imitam das vagas do mar!

Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:
"Teus olhos são garços,
Responde anojado; "mas és Marabá:
"Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,
"Uns olhos fulgentes,
"Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!"

— É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
— Da cor das areias batidas do mar;
— As aves mais brancas, as conchas mais puras
— Não têm mais alvura, não têm mais brilhar. —

Se ainda me escuta meus agros delírios:
"És alva de lírios",
Sorrindo responde; "mas és Marabá:
"Quero antes um rosto de jambo corado,
"Um rosto crestado
"Do sol do deserto, não flor de cajá."

— Meu colo de leve se encurva engraçado,
— Como hástea pendente do cáctus em flor;
— Mimosa, indolente, resvalo no prado,
— Como um soluçado suspiro de amor! —

"Eu amo a estatura flexível, ligeira,
"Qual duma palmeira,
Então me responde; "tu és Marabá:
"Quero antes o colo da ema orgulhosa,
"Que pisa vaidosa,
"Que as flóreas campinas governa, onde está."

— Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
— O oiro mais puro não tem seu fulgor;
— As brisas nos bosques de os ver se enamoram,
— De os ver tão formosos como um beija-flor!

Mas eles respondem: "Teus longos cabelos,
"São loiros, são belos,
"Mas são anelados; tu és Marabá:
"Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,
"Cabelos compridos,
"Não cor d'oiro fino, nem cor d'anajá."

————

E as doces palavras que eu tinha cá dentro
A quem nas direi?
O ramo d'acácia na fronte de um homem
Jamais cingirei:

Jamais um guerreiro da minha arazóia
Me desprenderá:
Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,
Que sou Marabá!


Análise:
Publicado no livro Últimos Cantos (1851) durante o período Romântico, Marabá é Poema integrante da série Poesias Americano. Esse poema tem 11 estrofes e 54 versos, sendo eles 6 quartetos e 5 sextetos.
O poema segue o esquema de rimas (AA B CC B / D E F E) esse padrão se repete ao longo do poema. Quanto aos versos, eles são de 11 e 5 silabas poéticas. Nos sextetos os versos variam, podendo ser 11 e 5 sílabas poéticas, nos quartetos há uma predominância de versos com 11 sílabas poéticas com exceção dos dois últimos quartetos que apresentam uma alternância entre 11 sílabas com um verso de 5 sílabas.
Os versos quanto ao esquema ritmo seguem o seguinte padrão: (Eu VIvo soZINha; ninGUÉM me proCUra)
A primeira parte do verso é jambo seguido de um anapésto.  O mesmo acontece com o verso seguinte (ACAso feiTUra) , do mesmo modo a primeira silaba, fraca seguida de um forte, depois duas fracas seguidas de uma forte. A leitura em voz alta dos versos ecoa feito um tambor, efeito garantido pelo acento mais forte que recai na 2°, 6° e 10° sílabas.
Ainda encontramos exemplos de supressão de sílabas poéticas em vários momentos do poema (Se algum dentre os homens de mim não se esconde) a primeira sílaba é uma união da primeira palavra do verso com a primeira sílaba da segunda palavra do verso, esse fenômeno é chamado de sinaléfa. Outro exemplo de sinaléfa seria esse fragmento ("Que as flóreas campinas governa, onde está), a parte em negrito marca onde ocorre a sinaléfa, ou seja, a formação de um ditongo. Também há o efeito de ectlipse são neste poema como é o caso de (Teus olhos são garços) a parte em negrito indica o momento em que a elisão ocorre, a formação de sílaba /zo/. (Qual duma palmeira), a palavra “duma” também é outro recurso poético largamente usado pelos poetas para garantir o ritmo e a métrica dentro do poema, esse feito denomina-se etclipse, ou seja, é a supressão de letras: consoante com vogal, esse efeito é encontrado em vário outros momentos no  poema.
A crase é  outra forma de supressão de sílaba poética encontrado no poema, ela ocorre quando a vogal átona final de uma palavra emenda-se com a vogal da palavra seguinte, mas isso apenas acontece quando as vogais são idênticas, como no seguinte caso (não se esconde), as partes em negrito indicam onde há uma crase.
Captar e entender os recursos utilizados pelo poeta para a construção do poema é essencial para a interpretação e leitura adequada. Nesse sentido, partindo de uma análise estrutural podemos afirmar que a predominância de jambos e anapestos indicam a dor, sofrimento e solidão sentida pela índia Marabá expressa no poema. Uma leitura mais atenta perceberá que a índia sofre por não ser aceita na tribo por ser uma índia mestiça. Ainda há uma repetição de vogais fechadas ao longo de todo o poema /o/ e /u/ que indicam a dor e a melancolia (Se algum dos guerreiros não foge a meus passos) em apenas um verso há a repetição das vogais /o/ e /u/ acentuando a dor e o sofrimento experimentado pelo eu lírico. Neste outro fragmento (Se ainda me escuta meus agros delírios) a repetição das vogais /e/ e as vogais fechadas assinalam o lamento expressado pela índia Marabá.
A frequência com que aparecem sons nasais na maior parte dos versos lembra a um lamento do eu lírico por sentir-se desprezada. Em comparação com os versos em que o índio Marabá dirige-se ao eu lírico há uma ausência de vogais fechadas, ou uma frequência menor de vogais fechadas.
Agora no que se refere ao uso de figuras de linguagem, encontramos; aliteração, assonância, hipérbato, símile, personificação, sinestesia, e metáfora. A começar pelas figuras de linguagem que garantem certa sonoridade e melodia ao poema. A aliteração do /s/ em vários momentos, tal como podemos constatar neste fragmento a repetição da consoante sibilante (Mas eles respondem: “Teus longos cabelos, São loiros, são belos”.). Neste outro fragmento assonância do /e/ (Bem pretos, retintos...).  O hipérbato é um recurso bastante empregado na poesia, no caso deste poema algumas passagens que podemos destacar um exemplo de hipérbato, ou seja, a inversão sintática da frase (Se algum dentre os homens de mim não se esconde,), aqui nós podemos perceber que o objeto da oração não está no final como geralmente acontece.
O poeta também se aproveita do uso de imagens e faz comparação do rosto da índia Marabá com os lírios (— É alvo meu rosto da alvura dos lírios,). Essas imagens são bem exploradas contribuindo para a construção da desta personagem no poema. A índia em várias estrofes é descrita para ao mesmo tempo exaltar a sua beleza e enfatizar a sua frustração por não encontrar o amor por ser mestiça. Em outro fragmento (As brisas nos bosques de os ver se enamoram), aqui a beleza da índia é posta em destaque, porque os bosques se enamoram de tanta beleza, caso de personificação. (Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar) , neste verso, a beleza da índia é centrado no brilho de seu olhar. Os olhos dela são tão belos que são comparados à luz das estrelas através de uma metáfora.
Para dar mais ênfase ao sentimento e a vontade de expressar-se o eu lírico recorre a mistura de sentidos para tentar alcançar a clareza em transmitir os sentimentos melancólicos, (E as doces palavras que eu tinha cá dentro/A quem nas direi?), as palavras doces referem-se ao que a personagem Índia marabá sente, amor e carinho, mas que ela não pode dizer, porque não quem possa ouvir.
Percebe-se claramente neste poema marcas românticas tal como a figura do índio, mas não um índio qualquer, uma índia Marabá, ou seja, uma índia mestiça que representa melhor o povo brasileiro e a cor-local.  O amor melancólico e desesperado também faz parte da temática deste poema. A índia no poema enfrenta uma grande crise amorosa ao sentir o desprezo que ela causa por ser Marabá.  A moça “marabá” está desiludida porque, apesar de ser bonita, nenhum dos guerreiros de Tupá a procuram, porque ela é mestiça. Ela não pertence àquele lugar. Em Marabá podemos dizer que apesar do forte lirismo, esse poema não pertence a lírica pura. O eu lírico cede voz às demais personagens: "Quero antes um rosto de jambo corado,
"Um rosto crestado "Do sol do deserto, não flor de cajá."(Neste trecho podemos o índio guerreiro dizendo que prefere uma moça com a pele mais corada, porque a flor de Cajá é um pouco mais clara.)
A moça (eu lírico) também delira e sofre por amor. “Se ainda me escuta meus agros delírios:” Os amargos delírios a consomem e ela sempre se tem rejeitada pelos homens da tribo.  O modo como o eu lírico descreve o espaço misturando esses elementos com a descrição da própria moça, espaço e personagem se fundem. Carregada de metáforas e outras figuras de linguagem que trazem a moça e o espaço com um único elemento: "És alva de lírios", e “As brisas nos bosques de os ver se enamoram,
— De os ver tão formosos como um beija-flor!”“. Essas figuras exaltam o elemento paisagístico.
Ainda é importante dizer que Gonçalves Dias foi mestiço e sofreu muito por isso. Essa origem mestiça causou grande frustração na sua vida impedindo-o de se casar com Ana Amélia e que aparentemente o poeta jamais se recuperaria desse evento. A frustração experimentada por essa índia também é a mesma frustração experimentada pelo próprio poeta que é impedido do amor verdadeiro por sua origem mestiça.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Texto Instrucional: o que é e como se faz


Texto Instrucional





O texto Instrucional tem como finalidade instruir, ou melhor, ensinar alguém sobre algo que o leitor ainda não saiba. Exemplos de textos instrucionais; bulas de remédio, manuais de instrução, receitas culinárias, regras de montagem, regras de jogos etc. Veja. 

Patê Rápido (TITULO)

Ingredientes

200 gramas de queijo branco light ou ricota

½ dente de alho passado pelo espremedor

1 colher de sopa de salsinha picada

½ xícara de creme de leite light sem soro

Sal a gosto

(DESCRIÇÃO EM TÓPICOS)

Modo de preparar

Com a ponta de um garfo, amasse o queijo branco. Adicione o creme de leite aos poucos e misture até obter uma consistência pastosa. Acrescente o alho, a salsinha e o sal. Misture tudo muito bem e sirva sobre torradas ou fatia de pão integral.

(VERBOS EM IMPERATIVO OU INFINITIVO)